Texto de Jean Cocteau, representado por Piaf, em 1940 ganha o espetáculo sob a direção de Jair Raso.
Estreia no dia 19 de agosto, sexta-feira, às 21h, no Teatro FELUMA (Alameda Ezequiel Dias, 275 – Centro – BH – MG), o espetáculo “O belo indiferente. Sob a direção de Jair Raso, o texto de Jean Cocteau, traduzido por Maria Cristina Billy, leva ao palco Joselma Luchini e Vinicius de Castro (Marcus Vinicius Amaral -Stand in).
“O espetáculo desnuda o silêncio da violência que habita entre nossos corpos.”
(Marcus Vinicius Amaral, ator)
Surpreenda-se! Esse é o convite de Jean Cocteau, que nos lança num texto dramático e intenso, representado pela primeira vez em 1940 por Edith Piaf, para quem escreveu a peça. Nessa leitura dirige-se o foco para o lugar que a violência psicológica pode ocupar numa relação amorosa. Nos meandros da trama provoca-se a desconstrução da mulher, que se transforma numa sobra do que foi. Um espetáculo que transforma noite em luz, ao propor um espaço de reflexão sobre a violência contra a mulher.
“Foram necessários 44 anos de dedicação ao teatro, para que me fosse concedida a honra e a glória de viver essa personagem com a força e entrega que ela merece. Parafraseando Jean Cocteau ‘Esse monólogo transforma noite em luz’”
Joselma Luchini
Nesta produção contemporânea, “O belo indiferente” sob a direção de Jair Raso e assistência de direção de Andréa Raso, ganha cenografia de Miguel Gontijo, Andréa Raso e Luiz Alberto De Fillipo (que também assina a produção executiva). Produção: Grupo Faos e Med&Cena. Assistente de produção executiva: Sérgio Miguel Cardoso.
O figurino é de Juçara Costa, Metódo DB, Daniel Araújo e Andréa Raso, confeccionado por Maria dos Anjos.
Os atores têm preparação vocal assinada por Babaya e Luiz Alberto De Filippo e preparação corporal de Marcus Vinicius Amaral.
Com arranjos de Daniel (corrigir) Maia , iluminação de Jair Raso e Márcio Carvalho o espetáculo traz, ainda, na ficha técnica: Nando Freitas, técnico de palco; Marcinho, operação de luz; Amynas, operação de vídeo; fotografia de Flávia Canavarro e programação visual de Clara Gontijo.
Patrocínio: FELUMA – Fundação Educacional Lucas Machado.
“Estranhamento. Onde e quando se dá essa história? Em qualquer tempo ou lugar. Um par que pode ser qualquer par, a despeito de questões de gênero, raça, crença, idade ou ligações afetivas. Um figurino que abre espaço para escancarar o animalesco que existe no humano – quando em pelo – desprovido de disfarces para exercer sua tarefa de desconstrução do outro. Um encontro com o grito cruel presente na indiferença e que lança para o profundo desamparo aquele que se torna uma sombra de si mesmo.”
(Andréa Raso, Assistente de direção)
Do diretor
Jair Raso
Jean Cocteau (1889-1963) foi um artista avante de seu tempo. Seu “Belo Indiferente” parece que foi escrito sob encomenda para os dias de hoje, embora seja um texto de 1940.
Em nossa leitura, o texto trata da violência psicológica contra a mulher. Esse tipo de violência nem sempre é percebida como tal. Menos ainda é reportada.
Desnudar esse tipo de violência foi o grande propósito dessa montagem.
O processo civilizatório passa pela depuração de nosso lado animal. Temos dentro de nós uma besta, presa por um fio tênue, pronta e capaz de se manifestar. Quando ela aparece de forma reativa, suas causas e efeitos são fáceis de serem percebidos. Entretanto, somos um animal sofisticado, capaz de pensar uma agressão velada, dissimulada e destrutiva como a indiferença.
Amarrar cada vez mais esse animal violento faz parte da construção do humano.
Para além da questão central da peça, a indiferença do Belo, buscamos a beleza da forma, não só para amenizar o desconforto do assunto, mas também para prestar homenagem ao grande artista que foi Cocteau.
Dedico essa peça a todas as mulheres que, em movimentos ou ações singulares, combatem a violência.
Considerações
por Andréa Raso
Essa montagem nasceu durante a pandemia, a partir do desejo da atriz Joselma Luchini em interpretar a personagem Edith, uma mulher submersa na indiferença de seu par amoroso. A direção de Jair Raso fez um recorte na questão da violência presente no texto.
O espetáculo “O Belo Indiferente”, escrito por Jean Cocteau, na década de 40, marca a estreia de Edith Piaf como atriz numa peça teatral. Nessa leitura contemporânea dirige-se o foco para o lugar que a violência psicológica pode ocupar numa relação amorosa. Nos meandros da trama provoca-se a desconstrução da mulher, que se transforma numa sobra do que foi, a partir do mergulho numa relação abusiva e tóxica.
Ao assistirmos o documentário “O Golpista do Tinder”, na Netflix, percebemos o quanto esse modus operandi é atual, universal e perpassa qualquer relação de gênero. No palco poderiam estar no lugar desse casal, dois homens, duas mulheres. E se quiséssemos extrapolar, poderíamos vislumbrar duas pessoas diante das relações destrutivas.
A proposta do cenário foi marcar um “não-espaço-tempo”, tal qual numa obra surrealista, em referência ao próprio Cocteau. Para tal, contou-se com a criação de Miguel Gontijo, artista plástico reconhecido e premiado, que propôs um cenário “transparente”, sem referências que nos conduzissem ao reconhecimento de em que época se passa a peça. Afinal, essa história é atemporal e pode se dar em qualquer lugar, em qualquer época. O uso de elementos que subvertem suas funções originais também foi uma escolha. Uma obra de arte se transforma num relógio que gira o tempo ao contrário; uma gangorra que se transforma em janela…
O figurino seguiu a mesma linha, contando com a produção artística de Juçara Costa, a partir de seu Método DB-Desenhos Bordados, no qual fragmentos de bordados, tecidos por várias mãos e diferentes mulheres, tomam vida numa peça inspirada no “Uruluz”, um animal fictício de poder, criada pelo estilista Daniel Araújo, para o SPFW + Regeneração em 2021. Num contraponto à situação da personagem Edith, que encontra-se sozinha e numa condição de desamparo, o figurino traz em si a força do coletivo feminino.
Já o figurino do Belo marca dois momentos: quando ele se encontra camuflado em sua roupagem de sedutor e quando se despe para mostrar sua condição animal. A escolha do nu artístico se deu nesse contexto: o homem quando despido de seus atributos civilizatórios passa a agir pela via da animalidade, numa atitude predatória. Outro argumento que nos levou a escolher esse figurino “em pelo” é uma homenagem ao trabalho de Jean Cocteau com a arte erótica masculina, relacionada com sua homossexualidade.
A trilha sonora também é um ponto marcante, pois a escolha foi por uma música icônica de Edith Piaf, Hino ao amor, interpretada por Joselma Luchini, num arranjo original de Daniel Maia. E numa homenagem aos contemporâneos de Jean Cocteau, se elegeu também Erik Satie.
Um espetáculo que transforma noite em luz, ao propor um espaço de reflexão sobre a violência contra a mulher.
*Andréa Raso é psicóloga, instrutora de mindfulness, artista plástica, dramaturga e escritora.
Joselma Luchini
Atriz Joselma Luchini, uma vida dedicada ao teatro. No seu vasto currículo protagonizou peças dos autores: Nelson Rodrigues, Ronaldo Boschi, Ariano Suassuna, Eugene Gladston O’ Neill, Pedro Porfírio, Cecília Meireles, Lúcio Cardoso e outros. Dirigiu e adaptou para o teatro: Bom Crioulo de Adolfo Caminha, Sermão da Sexagéssima de Padre Vieira; Antes do Baile verde de Lygia Fagundes Telles; A Estrela sobe de Marques Rebelo; Contos de aprendiz de Carlos Drummond de Andrade; A Carteira do Meu Tio de Joaquim Manuel de Marcedo; Crônica da Casa Assassinada de Lúcio Cardoso; O Conto da Mulher Brasileira de Edla Van Steen; São Bernardo de Graciliano Ramos; A Alma Encantadora das Ruas de João do Rio; Maira de Darcy Ribeiro; Papéis Avulso de Machado de Assis; Ponciá Vicêncio de Conceição Evaristo; Viagem de Cecília Meireles. No teatro infantil, ganhadora de vários prêmios como melhor atriz. Escreveu e publicou quadro livros infantis. Com seus personagens “Jojô e Palito” deixa sua marca incontestável no teatro infantil.
Jair Raso
Jair é médico, neurocirurgião, mestre e doutor em cirurgia, membro da Academia Mineira de Medicina, sendo também bacharel em Filosofia. Dramaturgo, escritor, diretor, produtor e iluminador, atua na área de artes cênicas desde 1978, tendo mais de 17 peças de sua autoria encenadas, dentre as quais “Chico Rosa”, “A Corda e o livro”, “Maio, antes que você me esqueça”. É curador do Teatro Feluma em Belo Horizonte e sócio da Med&Cena Produções.
Seu trabalho é reconhecido, tendo sido premiado diversas vezes: Prêmio Sesc/Sated Iluminação do espetáculo Vem Buscar-me que ainda sou teu, de Carlos Alberto Soffredini, direção de Kalluh Araújo, 1987; Prêmio Sinparc/ Bonsucesso, melhor texto, Três Mães, 2002; Prêmio Funarte Miriam Muniz, texto A corda e o Livro, 2005; Troféu Conexão Cultural, Destaque Dramaturgia, texto A Corda e o Livro, 2008; Prêmio Sinparc/ Copasa, melhor texto, Memórias em tempos líquidos, 2013; Prêmio melhor iluminação, Mar & Ana, Festival Nacional de Teatro de Varginha, 2014.
Serviço
O BELO INDIFERENTE
- Com Joselma Luchini e Vinicius Di Castro
- Direção: Jair Raso
- Texto de Jean Cocteau, traduzido por Maria Cristina Billy
- Ingressos – Os ingressos já estão à venda pelo Sympla
- Valores – R$80,00 – oitenta reais, inteira e R$40,00 – quarenta reais, meia entrada.
- Classificação etária – 18 anos
- Temporada – sextas e sábados, 21h e domingos, 19h
- Datas – 19 (estreia), 20, 21, 26, 27 e 28 de agosto