Curso oferecido pelo PrEsp e Ceapa em parceria com o Pronatec capacita 17 homens atendidos por programas de prevenção social à criminalidade
Design de barba, cavanhaque, bigode, acerto de costeletas, aparos de pelos, higienização do couro cabeludo e técnicas de corte. Hoje, Cleverson Rodrigo, de 24 anos, que há três meses não havia sequer cortado um cabelo, está familiarizado com todos estes termos e suas respectivas técnicas. Ele integra um grupo de 17 homens atendidos pelo Programa de Inclusão Social de Egressos do Sistema Prisional (PrEsp) e pela Central de Acompanhamento de Penas e Medidas Alternativas (Ceapa), ambos desenvolvidos pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp).
Eles cumpriram suas penas determinas pela Justiça e hoje, após conquistarem a liberdade, buscam novas alternativas através da profissionalização. “Tem sido uma experiência reveladora. Já tenho planos de abrir um salão em sociedade com um amigo e acredito que as técnicas de cortes que acompanham a nova moda, frequentemente solicitadas pela juventude, alavancarão o meu negócio”, compartilha Cleverson.
A iniciativa resulta de uma parceria da pasta com o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap) e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sedesctes). Para a subsecretária de Prevenção à Criminalidade da Sesp, pasta que coordena o PrEsp e Ceap, Andreza Gomes, esta união de esforços é fundamental e previne a reentrada na criminalidade. “Cursos que fomentam o empreendedorismo, principalmente dos egressos, permitem que eles alcancem novas oportunidades e ajudam a reduzir o índice de reincidência” destaca.
O professor Cleitom Teixeira trabalha no ramo há nove anos e possui um salão no Morro do Papagaio, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, onde reside. Ele define sua turma como “extraordinária” e diz perceber que os alunos, que estão fazendo o curso voluntariamente, por interesse próprio, realmente querem mudar de vida. “Muitos têm família e apresentam uma maturidade que, não só eles aprendem, mas eu também aprendo muito. Hoje nós formamos um elo forte, onde um torce pela felicidade do outro. A nossa primeira frase do dia no grupo do WhatsApp é: Bom dia família! ”, revela o professor.
O curso surgiu de um desejo do público atendido pelos programas PrEsp e Ceapa. Em busca de atender as demandas e expectativas dos egressos e cumpridores de medidas alternativas, a escolha pela modalidade de barbeiro se deu pela análise do que eles mais demandavam nos últimos atendimentos dos programas, nos anos de 2017 e 2018, no Centro de Prevenção Social à Criminalidade de Belo Horizonte (CPC-BH).
Às vezes, há dificuldades como a distância, a administração do tempo do curso com trabalhos temporários ou alguma oportunidade de emprego que surgiu ao longo do tempo. “Mas, mesmo diante destes desafios, eles surpreendem com a vontade de fazer dar certo, mostrado que são profissionais extremamente engajados. Se o curso está sendo um sucesso, é mérito todo deles”, destaca a analista social do Presp no Centro de Prevenção Social à Criminalidade de Belo Horizonte (CPC-BH), Paloma Santos.
As aulas acontecem na Fundação Oásis – que disponibilizou o espaço sem nenhum tipo de contrapartida, de segunda-feira a quinta-feira, 4h por dia. Os alunos recebem uma ajuda de R$9 por dia, para auxiliar no transporte e alimentação, mas a verba só é repassada mediante comprovação de frequência. Ao final do curso, todos receberão uma certificação.
Rafael Santos, de 29 anos, já teve contato com a área de estética feminina, escova e corte, mas também nunca teve experiência como barbeiro. Ele se descobriu na área. “Achei meu ramo, gostei e pretendo abrir um negócio futuramente. Meu sonho é ser um grande empresário e, se Deus quiser, eu vou conseguir”, revela.
Capacitação para o empreendedorismo social
Para ajudar a colocar em prática as ideias de empreendedorismo da turma, o Centro de Prevenção Social à Criminalidade de Belo Horizonte (CPC-BH) da Sesp convidou uma equipe da FA.VELA que fez uma intervenção na oficina nesta segunda-feira, 10.12, dando orientações e apontando caminhos para esta trajetória, inclusive para a capacitação empreendedora, que pode acontecer, inclusive, por meio de cursos ofertados pela ONG.
A FA.VELA é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que atua com educação empreendedora para moradores de favelas e periferias modelarem empreendimentos sustentáveis e assumirem a liderança na transformação local.
Grande parte dos atendidos pelo Pronatec e Ceapa são moradores destas regiões de vulnerabilidade social. “O objetivo do convite é que os alunos conheçam esta organização, participem dos cursos ofertados e para que eles, enquanto barbeiros, se reconheçam como empreendedores e invistam nisto” diz Paloma Santos.
Um gesto Azul
Para além das aulas, o grupo aderiu à campanha Novembro Azul – que traz a conscientização a respeito de doenças masculinas, principalmente o câncer de próstata – e, mês passado, fez uma intervenção no Centro de Prevenção Social à Criminalidade de Belo Horizonte (CPC-BH), oferecendo cortes masculinos, gratuitamente, para jovens e adultos atendidos dentro dos programas desenvolvidos no CPC e para a comunidade local.